sexta-feira, setembro 29, 2006

PORQUE UM HOMEM TAMBÉM CHORA...


Porque os homens também choram….

O homem não é uma ilha, necessita para viver, de se relacionar com outros seres humanos; pode relacionar-se Institucionalmente, e juntar a essa relação Institucional um cunho estritamente pessoal.

As relações pessoais ajudam o ser humano a tornar-se…humano, exigem solidariedade·
O pior que pode acontecer, quando exercemos funções de liderança, é esquecermos, pontualmente, a relação institucional para aprofundarmos a relação pessoal.

Quando aprofundamos a relação pessoal, despimos a “veste” de frieza e do homem racional, para nos tornar-mos, mais, humanos… E quando chega a hora de decidir?

Imagine o leitor que, se considera amigo de alguém, e que a dada altura tem que afrontar essa pessoa? Por um lado tem uma relação institucional que lhe permite tomar certa posição de firmeza, por outro lado tem a relação pessoal, que corre grandes riscos de sair beliscada! Que fazer, como actuar, é a grande dúvida…
A sua posição institucional impele-o a agir, a relação pessoa retrai-o…

Podemos ter duas soluções, invariavelmente, opostas:
1) Você actua, a posição institucional assim o obriga!
2) Você não actua, a relação pessoal proíbe-o de fazer tal coisa!

Desenvolvendo, se a sua opção for a primeira, você cumpre com as suas funções, foi para isso que a vida o colocou nessa situação, já sabe que a relação pessoal ficará manchada, mas você tem que actuar, se não actuar contraria as suas convicções e daqueles que o rodeiam! Você terá que ser forte e suportar a dor, mas não o podem acusar de ter uma atitude de “não decisão”, você é sem dúvida o homem do momento à altura do problema…

Se a sua opção for a segunda, você é um homem sentimental, coloca a relação pessoal à frente da institucional…os seus amigos não ficarão desiludidos, você manteve-se firme e aguentou “os cavalos”, mas (e há sempre um mas), você frustrou as expectativas daqueles que o rodeiam… Não decidiu, pode vir a complicar a sua posição institucional, mas seguramente você, sob o ponto de vista pessoal, terá uma noite descansado… Foi contra as suas convicções, mas um amigo merece isso! Os amigos têm o direito de nos obrigarem a ceder tudo por ele…alias são amigos…basta!

Mas vejamos, você optou pela primeira hipótese; Arranjou um problema do tamanho duma casa… Alguns dos seus amigos, aqueles que não estavam à espera da sua decisão, estão danados, estão completamente cegos, e pior, a sua consciência está “um caco”, você não sabe o rumo, em espaço de segundos, aquilo que parecia certo está a escapar-lhe “por entre os dedos” E agora?

Agora você chora… “Os homens também, choram”… o leitor consegue imaginar, o General Eisenhower, Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa, durante a II Guerra Mundial, no meio das praias francesas do desembarque do Dia D, deitado na areia a pedir a Deus, que o mundo não lhe caia em cima…porque se chateou com um outro General amigo, mas que, lamentavelmente, era do Exercito Inglês? Mesmo sendo Inglês (era seu aliado), tinham-se chateado… Eisenhower, que raramente tinha duvidas, sentia-se derrotado… Só tinha a certeza duma coisa, amanhã seria um novo dia…

No meio duma decisão, certamente, ocorrem rupturas e desentendimentos, mas não será esse o curso normal da história? Pergunto eu, o mundo não evolui com desentendimentos, opiniões diferentes? Todavia o factor sentimental é sempre importante; Se magoamos os nossos amigos, certamente não é de propósito, mas se tiver que ser, e se ao fim estivermos com dores na alma, temos que “saber gerir” e encontrar um ponto de equilíbrio, para assim se arranjar uma escapatória;

Se o amigo magoado, for um verdadeiro amigo, fica chateado é certo, triste…mas ao fim de algum tempo saberá perdoar, saberá conversar e dar mais um beijo ou um abraço…

Em todo o caso, não poderia agora, deixar de dedicar uma quadra da Mafalda Veiga, do poema “Cada lugar teu” a todos os amigos que magoei masque ao fim de algum tempo me souberam entender e perdoar:

Eu Vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Vale a pena pensar nisto….

Google

1 Comments:

At 6:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Os dilemas são parte integrante e fundamental do ser humano, com eles vivemos a quase totalidade da nossa vida, ora ignorando-os à espera que o tempo e as circunstâncias os façam desaparecer, ora assumindo-os numa atitude reflexiva que conduza a opções e no fim à decisão.
Ora, o dilema sobre as decisões “institucionais” que muitas vezes temos que tomar na vida fazem parte de um conjunto de dilemas que são na sua maioria provocadores de consequências para nós e para aqueles que porventura de nós dependem.
As boas ou más decisões não podem, contudo, estar subjugadas aos interesses institucionais, ou aos interesses dos nossos amigos, para esse conjunto de dilemas só pode usar-se um critério maior, e o critério maior é o da “justiça” cujo conceito encerra a ideia de “verdade”. A justiça e a verdade são critérios éticos através dos quais podemos (devemos) gerir os nossos dilemas e consequentemente apoiar as nossas decisões.
Acontece com frequência que as decisões tomadas segundo este critério maior podem ser altamente penalizadoras para quem toma a decisão, essa é uma das consequências mais avassaladoras das ideias de justiça e verdade. O que não pode acontecer é deixar a justiça e a verdade fora das nossas decisões só porque elas estão relacionadas com os nossos amigos.
Solidariedade assenta no pilar da justiça, ou seja, a justiça é o pilar base de toda a atitude ética, cuja tem que estar presente 24 horas do nosso dia-a-dia.
A terminar, aconselho a leitura do magnífico poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, “Porque”.

 

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